O Thauma no Pequeno Príncipe
- Carlos Machado Jr
- 9 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de jun.
O conceito de thauma (θαῦμα), no pensamento grego, está profundamente ligado à ideia de espanto, maravilhamento e admiração diante do mundo, e é esse espanto que para muitos filósofos, especialmente para Aristóteles, marca o início da filosofia.
Compreende-se como o impulso inicial que nos leva a questionar, a buscar entender a realidade à nossa volta, o que nos move a refletir sobre o que está além das aparências e a tentar desvendar os mistérios da existência.
Relacionar o thauma ao personagem principal da obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, é especialmente interessante, pois o Príncipe é um personagem que vive num estado constante de maravilhamento e de busca por compreensão. Sempre questionando com uma inocência e profundidade que remetem a esse espírito filosófico.
O Pequeno Príncipe, em sua jornada e nas suas relações, exemplifica perfeitamente esse conceito. Ele vive em constante maravilhamento diante do mundo, e esse espanto o move a buscar o que é essencial, a questionar constantemente e a aprofundar sua compreensão da vida, das relações e do amor. Nesse caminho o Príncipe também deixa de lado muitas convicções.
Um dos momentos mais significativos na jornada do Pequeno Príncipe é quando ele decide deixar seu pequeno planeta.
Nesse momento ele sente medo do desconhecido, pressionado pelas obrigações em seu planeta e pelo sentimento de culpa por deixar a rosa.
A dúvida ao novo e ao estranho é um dos fatores que freiam o thauma, ainda que presente como uma forma de maravilhamento ou um desejo de explorar e de conhecer o que existe além de sua limitada experiência no pequeno planeta.
O Pequeno Príncipe é notório por suas perguntas incessantes. Ele não aceita respostas superficiais e insiste em continuar questionando. Isso se alinha como a base para a investigação filosófica.
Para ele, cada questão é uma abertura para uma compreensão mais profunda, e sua incapacidade de desistir das respostas, mostra o quão estava focado no seu caminho.
Essa insistência pode ser vista como a expressão daquele que ainda não se acomodou às “respostas impostas" pelas quais convivemos, e que, portanto, continua maravilhado e perplexo diante do mundo.
A famosa frase da raposa, "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", também reflete o thauma. O Pequeno Príncipe, ao ouvir essa lição, reage com espanto, mas também com um profundo entendimento da importância da relação que acaba de formar com a raposa. Ele se maravilha com a profundidade do vínculo que criou, algo que até então era desconhecido para ele. A admiração pelo que não é visível é uma manifestação clara do thauma.
Outro momento é quando o Pequeno Príncipe descobre o jardim cheio de rosas, ao perceber que sua rosa, antes única, não era mais a única rosa no universo.
A mistura de emoções diante desse fato provoca nele uma profunda reflexão sobre singularidade, amor e identidade. Este choque inicial é seguido por uma compreensão maior: a verdadeira singularidade de sua rosa não está no fato de ser a única de sua espécie, mas no vínculo que eles formaram.
Em toda a sua jornada, o Pequeno Príncipe se depara com personagens que o deixa inquieto, como o rei, o homem de negócios e o geógrafo. Esses encontros despertam no Príncipe uma análise sobre o comportamento humano. Ele questiona o sentido das ações e das escolhas que encontra em sua jornada, sempre com a inocência de quem está diante de algo novo e incompreensível.
Por fim, arrisco dizer que o thauma do Pequeno Príncipe deu a ele a coragem necessária para muitas descobertas, mas já existia bem antes quando ainda habitava seu pequeno planeta, demonstrado pela inteligência e diligência com elementos alegóricos que o autor da obra traz, enquanto descreve como é a vida do Príncipe no seu planeta.
O thauma, que para os gregos era o início da filosofia, também é para o Pequeno Príncipe o motor de sua busca pela compreensão.








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