Quem Decide?
- Carlos Machado Jr
- 17 de jan.
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de jun.
Há uma pizzaria próxima de casa que ao passar em frente eu penso: “Um dia preciso vir aqui com a família pra conhecer e experimentar a pizza.”.
Até o momento não fui. Mas da última vez que passei por lá, surgiu a ideia de olhar a avaliação dessa pizzaria no google. Aquela avaliação de até 5 estrelas que costumamos olhar antes de decidir entre alguns lugares desconhecidos.
Junto a isso, acabei me lembrando de outro restaurante que em dado momento decidimos não ir. Lembro que esse despertou o interesse pela localização que era em frente ao mar. No entanto, mesmo sem olharmos a avaliação on-line, resolvemos não ir pois um conhecido havia frequentado o mesmo e nos dito que não tinha nada de excepcional no restaurante.
E isso ocorre frequentemente, seja em restaurantes, passeios, rotas, produtos, livros, vestes, carros e até mesmo nos relacionamentos.
Sinto que o ser humano tem perdido muito da sua autonomia de escolha, muito além dos algoritmos ou de ações de marketing.
Decidir por não decidir diminui o risco e transfere possíveis culpas. Sinto que há um certo medo de errar ou de se expor.
Penso se as consequências desse comportamento poderia se transformar em falsa percepção de que se sabe mais, talvez pelo fato de errar menos ou do erro ser ocasionado por terceiros; ou ainda, um distanciamento dos processos de aprendizado inerentes aos riscos, por menor que eles sejam.
Aspectos esses ligados somente o tema das "escolhas". Pois creio que isso afete igualmente na definição daquilo que gostamos ou não. Afinal, como não gostar de algo que todos amam, ou gostar de algo que todos criticam?
Um caminho de lindas paisagens ou pelo bairro que lhe agrada, deixa de ser percorrido porque o aplicativo traça uma rota com o ganho de poucos minutos, ou ainda, deixamos de ir para lugares novos por não serem tão populares.
Quanto aos relacionamentos — as críticas ou as expectativas expostas em alto número pelas redes sociais faz com que transferíssemos nosso olhar para os problemas de nossa vida pessoal, desvalorizando o melhor de um parceiro, filho, amigo, etc. Esquecemos com o tempo de valorizar as qualidades ou os pequenos gestos do dia a dia pois não atendem a certos padrões (geralmente falsos) da sociedade.
Sabe aquele animal de estimação que você sonhava em ter, e que hoje só o vê com bons olhos quando alguém o elogia e brinca com ele. Onde fora esses momentos, se transformou em mais um trabalho árduo que você tem que conviver. E agora o tutor do animal vive se lamentanto com a famosa frase: "Bicho só dá trabalho!"
No passado, sem os aplicativos e suas avaliações, também contávamos com as opiniões daqueles que já haviam frequentado certo estabelecimento, mas não deixávamos de arriscar e construir nossa própria percepção. Afinal, inúmeros fatores podem ocorrer, por exemplo em uma ida a um restaurante. Fatores esses que podem ser bons ou ruins dependendo do dia, do seu humor, da conversa, da qualidade do serviço, do prato escolhido, do humor dos atendentes, e outros incontáveis exemplos.
Me soa estranho deixarmos uma escolha manifestada por sentimentos e percepções que nos agradaram num primeiro momento, para substituir pela avaliação de outros.
Não quero dizer aqui que não se deve olhar as avaliações ou ouvir nossos próximos a respeito de tudo afim de nos orientar, mas a questão que fica é que não podemos terceirizar nossas escolhas, nossas percepções, nossos gostos ou os convites que nos são feitos, e esquecer que somos dotados de personalidade única e capaz de fazer boas escolhas e avaliações, inclusive quando se refere ao amor, a ética, o justo, o correto e muito mais.








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