É Moral um Ato de Bondade Divulgado nas Redes?
- Carlos Machado Jr
- 26 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jun.
Há muito manifestação nas redes sociais quando usuários postam e divulgam uma ação altruísta que realizou.
Penso que esse é um debate possível de fazê-lo sob muitos aspectos filosóficos. No entanto, aqui irei analisar exclusivamente sob o olhar da moral.
Como introdução lúdica dessa análise, trago para nosso auxílio a alegoria intitulada Anel de Giges que consta na obra: A República, do filósofo Platão.
O enredo conta sobre um personagem chamado Giges. Ele era um pastor com boa imagem perante a sociedade, com fama de ser honesto, cortês e trabalhador digno.
Não é necessário trazer maiores detalhes da fábula nesse momento, e aconselho a buscarem a narrativa completa.
No entanto, em um dado momento da história, Giges encontra um anel que tem um poder peculiar. Esse anel quando colocado no dedo e em determinada posição faz com que a pessoa se torne invisível.
Em posse do anel e com o poder da invisibilidade, Giges passa a cometer muitas atitudes em proveito próprio. Ações reprováveis e criminosas,
Enfim, dos muitos ensinamentos que podemos aproveitar dessa alegoria trazida por Platão, para esse caso ficamos com a seguinte pergunta: O que você faria se ninguém pudesse descobrir ou ver o que você está fazendo?
Essa pergunta nos leva a refletir se agimos moralmente por conta de uma vigilância social e se entendemos a real importância que a moral exerce.
Mas voltando ao tema principal, podemos afirmar que o aspecto moral existente ou a falta dele ligado a uma ação, não está necessariamente vinculado a visibilidade do ato divulgado. Ou seja, a moral está intimamente ligada a percepção da pessoa que age, está no entendimento de ser essa ação necessária e com finalidade nos aspectos morais.
Isso é importante para indicar que o verdadeiro ato moral cometido não se observa por postagem ou falta dela. Ou seja, um ato aparentemente bondoso pode ser moral ou imoral e não depende de ser cometido na intimidade ou sob os holofotes das redes sociais. Não é isso que determina o aspecto moral.
Avançando um pouco mais e além da intenção da provável ação altruísta, temos também o ato de publicação do fato. E aqui, fazendo um exercício de imaginação podemos chegar a inúmeros resultados. Mas apenas para ilustrar melhor, vamos nos fixar em alguns.
No caso da divulgação ser concomitante com o ato - Nesse caso, parece haver um preparo de produção antecedente ao ato. E aí voltamos a pensar sobre o que está em jogo. A boa ação ou a publicidade da ação? Embora pareça ser fácil, a resposta ainda não é tão óbvia. Pois como foi dito acima, a real intenção esta no agente e ele pode alegar que esse tipo de publicação, embora traga benefícios para ele, tem simplesmente a pura intenção de inspirar e conscientizar seus seguidores para as necessidades e mazelas do mundo. E acreditando ou não, essa realidade intencional vive somente no íntimo da pessoa, por mais que seja da nossa vontade tecermos opiniões sobre.
De outra maneira, no caso da decisão de divulgar e comentar sobre o feito ser realizado quando o ato em si já havia sido realizado sob sigilo, e a princípio com a intenção de não ser divulgado. Temos nesse momento dois atos isolados que não se comunicam. E quanto a nova decisão de divulgar, segue-se o mesmo do que foi dito acima. No entanto, surge outras questões: Se esse novo ato for decidido sob o aspecto de benefício próprio e não altruísta. Ele destrói o aspecto totalmente moral do primeiro ato? Ele anula a moral do ato que quando cometido havia intenção puramente moral e sigilosa?
Como foi dito, haverá muitas outras vertentes imagináveis. E mais uma vez, me volto para a principal característica indecifrável, de que a única pessoa que tem a informação fidedigna sobre o ato e se a intenção foi altruísta ou egocêntrica, é a pessoa que comete.
Nada impede de tirarmos conclusões precipitadas ou sem elementos suficientes, mas isso não é filosofia, não é lógica, não é sequer moral. Talvez seja apenas uma necessidade de colocar opinião sobre alguém.
Tudo indica que um ato aparentemente de bondade, mas tendo como finalidade qualquer intenção final diferente do ato em si, me parece não ser altruísmo, quem sabe uma auto-promoção, autorrealização, benefício, ou ainda sob aspectos de medo, manipulação, culpa, insegurança, dentre outros.
Mas conforme se analisou, não se pode afirmar que todas as ações publicadas nas redes como algo virtuoso, não seria altruistas pelo ato da publicação. E uma opinião voraz em cima disso, talvez seja pior do que a própria publicidade do ato.
E por fim, é bom sempre analisar sobre o que se divulga e independente da intenção, para não incorrer em falta de ética com a imagem do ser humano que alega estar ajudando.
A resposta está em cada um. Faça o experimento do Anel de Giges e se imagine com esse poder. Caso pudesse ficar invisível, você cometeria somente ações altruístas? Ou talvez ficasse tentado a ouvir conversas alheias. Ver o que não está autorizado a ver. Pegar o que não está autorizado a pegar. Usar informações em benefício próprio. Além de outras possibilidades.








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